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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Até quando?

Reportagem Wellington Teixeira da Silva
Fotos Jason Munis

“Meu filho todo dia me pergunta onde está nossa casa. E eu fico sem reação”,
lamenta o desempregado Robson Tavares, 35 anos. Na última segunda-feira, dia 24, ele e sua família continuavam, como tantas outras pessoas, no acampamento Olga Benário, aguardando uma moradia digna. Falta de alimentação e banheiros, excesso de entulhos, barracos improvisados na sarjeta, crianças sem ir para a escola, são alguns dos inúmeros problemas enfrentados pelas famílias. “Para poder dar banho nos meus filhos tenho que ir para a casa da minha mãe ou de amigas próximas”, conta a desempregada Wellita Oliveira, 22 anos.


Os desabrigados conseguiram salvar poucas coisas de suas casas, que foram demolidas durante a ação de reintegração de posse do terreno onde moravam, na região do Capão Redondo. As famílias estão sobrevivendo, principalmente, com a ajuda de comunidades vizinhas, que têm doado alimentos e roupas.

Na memória dos moradores, ainda estão vivas as lembranças tristes do dia 17 de agosto, quando o local foi transformado num cenário de guerra. “Minha esposa foi baleada com uma bala de borracha. Eu consegui retirar poucas coisas de casa. Foram queimadas roupas das crianças. (...) Na hora em que estava tirando as coisas do meu barraco jogaram uma bomba, que quase me acertou”, relembra Robson.

Em busca da moradia digna

Reportagem Erick Teixeira da Silva
Fotos Alex Monteiro

No último dia 31 de agosto, um grupo de repórteres e fotógrafos aprendizes, representando a instituição Padre Josimo Tavares, saiu com um importante destino: acompanhar um dia de vida das famílias que estão acampadas em barracos improvisados no Parque do Engenho. As casas dos moradores foram demolidas no dia 24 de agosto, durante uma ação de reintegração de posse, que contou com a presença da tropa de choque da Polícia Militar.

Segundo a moradora Eufrásia Geovelina de Jesus da Silva, no dia da reintegração não houve acordo. O cenário era de guerra, com direito a balas de borracha, bombas de efeito moral para todos os lados e muita violência.
“Parecia a volta da Segunda Guerra Mundial: tiros, paus, pedras e bombas foram as principais armas utilizadas”.

O morador Anderson Borges de Paula Dias, mais conhecido como Bingo, de 23 anos, afirma que, antes da reintegração, os policiais avisaram aos moradores que a retirada aconteceria. No dia da ação, conta Anderson, não houve conversa e foram presenciadas cenas de agressões. “Já chegaram invadindo, colocando em risco vidas de trabalhadores, donas de casa e até mesmo crianças”.

Bingo conta que para se manter com alimentação, banho e atender a outras necessidades, os moradores dependem de espaços comunitários. Cozinhas e banheiros improvisados são divididos. A falta de água, mantimentos e roupas são algumas das dificuldades enfrentadas.

O desabrigado diz que, no meio disso tudo, tem apenas um sonho.“Acredito que cedo ou tarde seremos atendidos, com respeito e dignidade, igual ao restante da população do mundo afora”.

Já a dona de casa Eufrásia Geovelino de Jesus da Silva, de 43 anos, mãe de três crianças, afirma estar cansada de tantas promessas da prefeitura. Segundo ela, é sempre a mesma história: “Prometem, prometem, pura palhaçada”, afirma a desabrigada que, apesar de tudo, não desiste e afirma ter fé de que as coisas vão melhorar.

“A senhora tem algum sonho ou espera algo daqui para frente?”, perguntou a reportagem a ela. “Espero, sim senhor, uma casa própria para mim e todos os meus colegas que aqui habitam”, disse a moradora, confiante.

Nota do repórter: A fala dessa moradora me tocou de tal forma que nem tenho palavras para explicar, pois ao mesmo tempo em que ela quer sua casa própria jamais esqueceu de seus colegas. Enquanto esse tão esperado sonho não se realiza, só nos resta ficar aqui da instituição acompanhando o dia a dia desses brasileiros, para que saiam vitoriosos desta situação difícil (em que eu poderia estar ou até mesmo você).